sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Aprendizagem e tecnologias móveis


Em uma pesquisa divulgada em 2018 pela Fundação Getúlio Vargas, no Brasil existem 220 milhões de celulares em funcionamento no país contra 207,6 milhões de habitantes, de acordo com os dados mais recentes do IBGE.

Neste contexto, é esperado que os dispositivos móveis surjam no cotidiano das salas de aula. E, é possível utilizá-los como potencializadores do processo de ensino e aprendizagem pois a escola precisa caminhar com a cultura digital. 

Então, para utilizar o potencial das tecnologias móveis no contexto educativo, se faz necessário assumir  mudanças pedagógicas que se distanciem do tradicional falar-ditar do professor. 

Por isso, também é importante investir na formação do docentes para que os mesmos se apropriem desta tecnologia e produzam, apoiados nesta nova ecologia, novas mediações. 

Muitas são as queixas que o celular rouba a atenção do aluno na aula. O professor precisa se apropriar pedagogicamente desta tecnologia, entender suas potencialidades, suas limitações, seus imbricamentos, seu uso nocivo. 

O smartphone, o tablet, o whatsapp, entre outros podem compor a rede sociotécnica juntamente com o professor, aluno, sala de aula, computador, livro, e a partir dos agenciamentos performados construir uma nova política cognitiva na sala de aula que possibilite um novo modo de ensinar e de aprender: ubíqua, mais interativa, mais cooperativa, mais desterritorializada, mais autônoma. 

domingo, 11 de novembro de 2018

Educação aberta, flexível e em rede

A rede é o espaço para as interações, a partilha de conteúdos e informações e devido a essa diversidade se constitui como meio para o acesso à educação e aos contextos de aprendizagem.

Apoiando-se na web, a rede promove a desterritorialização, não se limitando a barreiras geográficas e, deste modo, se constitui como meio para promover a educação aberta numa perspetiva de desenvolvimento pessoal e ao longo da vida, fomentando o aprender a aprender, acompanhando a velocidade das mudanças nesta sociedade tecnológica e informacional. 

A Educação Aberta colaborativa em rede tem sido considerada uma filosofia educacional importante para enriquecer a aprendizagem ao longo da vida e tem proporcionado a oportunidade de construir conhecimento através das redes sociais, a partir da autonomia, a coautoria e a socialização. Mas, para que isso se efetive torna-se necessário que a implicação e a participação de todos os membros da rede (os humanos e os não-humanos)


Para isto, não basta apenas integrar a rede e acessar a e-informação num sistema aberto.  Não, a educação aberta e colaborativa em rede requer que todos os atores que formam a rede, estejam interagindo, trocando, se agenciando, produzindo. E desse modo, a educação estará produzindo novas ambiências, novas ecologias cognitivas, novas formas de aprender e de ensinar.

domingo, 21 de outubro de 2018

Portfólio Digital: ESPECIALIZAÇÃO EM TECNOLOGIAS E EDUCAÇÃO ABERTA E DIGITAL

Este blog é um espaço que surgiu como objeto de pesquisa do meu mestrado (2011) e venho desde então usando esse espaço para criar uma ambiência de troca de conhecimento, de interatividade, de pesquisa, de aproximação com alunos, ex-alunos e qualquer outra pessoa interessada nos temas que discuto aqui.


Agora, nesse espaço também criarei o meu portfólio digital dentro da especialização em tecnologias e educação aberta e digital, e assim, vamos seguindo criando espaços híbridos e dinâmicos que possibilitem conversação, troca, compartilhamento e aprendizado.






Sessão científica sobre Comunicação com paciente surdo em situações de emergência. Bota na agenda!!


domingo, 12 de agosto de 2018

Mais uma sessão aberta da LAEPS: é so aparecer!!!


Novidades no manejo da sepse: atualização 2018

Nossa, fiquei sumida por 04 meses...desculpem, mas após defender o doutorado minha vida ficou ainda mais corrida.

Mas estamos hoje retornando com as atividades normais do blog, postando eventos, compartilhando conhecimento, discutindo saúde. Hoje vamos falar sobre atualização sobre a sepse.

A Campanha de Sobrevivência à Sepse ou Surviving Sepsis Campaign(SSC) foi criada em 2002 com o objetivo inicial de reduzir a mortalidade da sepse em 25%. A publicação de suas diretrizes tem servido como guia para o manejo dos pacientes com sepse/choque séptico em todo o mundo e um novo “guideline” é geralmente publicado a cada quatro anos, sendo a última publicação em 2016 (já publicado aqui)

Frente ao achado de novas evidências e da evolução rápida do conhecimento na área, novas atualizações acontecem visando o melhor manejo dos pacientes.


Diante disto, recentemente foi proposta uma atualização. A mudança mais importante é que os “pacotes de 03 e 06 horas” foram combinados em um único “pacote de 01 hora” com o objetivo principal de iniciar a ressuscitação de forma imediata.
 

O racional está no fato de que sepse é uma emergência médica e, assim como no infarto agudo do miocárdio e acidente vascular isquêmico, a identificação precoce, o manejo imediato e de forma correta nas primeiras horas de sua identificação levariam a melhores desfechos clínicos.
O “tempo zero” é definido como:

- Hora da suspeita de sepse na triagem na sala de emergência ou
- Hora do primeiro registro gráfico de prontuário de disfunção orgânica no caso de pacientes encaminhados de outros locais de atendimento.

Pacote de 01 hora:

1.       Coletar o lactato. Nova coleta se o inicial for ≥ 2 mmol/l.

O lactato é um dos marcadores de hipoperfusão tecidual e caso o exame inicial estiver elevado (> 2 mmol /L), um novo deverá ser coletado no intervalo de duas a quatro horas, tendo como meta a sua normalização. 

2.       Coletar culturas antes do início do antibiótico.

A sensibilidade das culturas pode ser reduzida após poucos minutos da primeira dose do antimicrobiano, desta forma, idealmente, elas devem ser coletadas antes do início destes. Apesar desta evidência, sabe-se que administração de antibioticoterapia adequada não deve ser retardada para a obtenção das hemoculturas! Deve-se coletar pelo menos dois pares de hemoculturas (aeróbico e anaeróbico).

3.       Administrar antibióticos de largo espectro.

Terapia empírica de amplo espectro com um ou mais antimicrobianos intravenosos objetivando cobrir todos os patógenos prováveis deve ser iniciada imediatamente. Os antibióticos devem ser descalonados conforme o resultado de culturas e suspensos caso a possibilidade de infecção seja descartada.

4.       Iniciar rapidamente a administração de 30 ml/kg de cristaloides se hipoperfusão ou lactato 4 mmol/l.

A ressuscitação com pelo menos 30ml/kg de cristaloides intravenosos deve ser iniciada de forma precoce e é crucial para o manejo da hipoperfusão tecidual induzida pela sepse e do choque séptico. A expansão volêmica deve começar imediatamente após o reconhecimento da sepse e/ou hipotensão e hiperlactatemia, e concluída em até três horas do reconhecimento. A falta de evidências que comprovem a superioridade dos coloides em comparação aos cristaloides e o custo mais elevado da albumina fazem com que os cristaloides sejam os fluidos de escolha no manejo inicial. Expansões volêmicas adicionais deverão ser realizadas de forma criteriosa e apenas em pacientes fluido responsivos.

5.       Iniciar vasopressores caso o paciente se mantenha hipotenso durante ou após a expansão volêmica. Meta de pressão arterial média (PAM) ≥ 65 mmHg.

Restaurar a pressão de perfusão de órgãos vitais de forma adequada é parte fundamental da ressuscitação e não deve ser adiada. Caso a pressão arterial não for restaurada após a ressuscitação volêmica inicial, os vasopressores deverão ser iniciados ainda na primeira hora com meta de PAM ≥ 65 mmHg. 

Possivelmente haverá necessidade de mais de uma hora para que a reanimação dos pacientes com sepse/choque séptico seja concluída, mas o início da reanimação e tratamento devem ser iniciados imediatamente e o paciente deverá ser reavaliado frequentemente nas horas subsequentes.
Fonte: http://www.pacientegrave.com/

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Mais um poema para refletirmos sobre o estar internado e a espera da cura

Viagem ao centro da cura

Tain, tin, tin, tain
Tain, tin, tin, tain
Checa o monitor
O senhor tem alergia a quê?
Quem é o cirurgião?
Tain, tin, tin, tain
Tain, tin, tin, tain
Confere o manguito
A sala já está pronta?
Quanto o senhor pesa?
Tain, tin, tin, tain
Tain, tin, tin, tain
Já tem operacional pra levar?
O senhor vai fazer qual procedimento?
De quanto tempo o jejum?
Tain, tin, tin, tain
Tain, tin, tin, tain
Vamos fazer o check list
O anestesista já chegou?
Quanto de dor já suportou?
Tain, tin, tin, tain
Tain, tin, tin, tain
Precisa de sangue, doutor?
O senhor tem alergia a quê?
Aqui só se pensar em viver
Tain, tin, tin, tain
Tain, tin, tin, tain
Confere o prontuário
Qual é mesmo o procedimento?
Senhor, segurança pra todos no momento
Tain, tin, tin, tain
Tain, tin, tin, tain
Posiciona o paciente
Só vai tirar um soninho pra relaxar
Pegou o acesso, monitora a PA
Tain, tin, tin, tain
Tain, tin, tin, tain
Tá vendo? Já acabou
Volta pro CRPA
Espera teu corpo voltar.
Tain, tin, tin, tain
Tain, tin, tin, tain
Liga pra o andar
E só leva quando a enfermeira chegar
Prontuário, receita e atestado pra levar
Tain, tin, tin, tain
Tain, tin, tin, tain
Tira o eletrodos
O senhor já vai voltar
Não esqueça de beber água e urinar
Tain, tin, tin, tain
Tain, tin, tin, tain
Pode levar, operacional
O senhor descanse e bom jantar
Em casa é lugar de melhorar.
Décio Plácido 

Atualizações AHA 2017 SBV/RCP


terça-feira, 3 de abril de 2018

Simpósio Sul-Brasileiro de Enfermagem



A data limite para submissão à Comissão Científica do Simpósio Sul-Brasileiro de Enfermagem é dia 15 de agosto de 2018 (a data não será prorrogada).

Brasileira lança aplicativo para alfabetização de crianças com autismo

Familiares e educadores que lidam com autistas recebem uma boa notícia neste 2 de abril, data em que se celebra o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Eles agora podem contar com um pequeno ajudante na estimulação da linguagem e alfabetização das crianças portadoras do transtorno do espectro autista (TEA), o Brainy Mouse (Rato Inteligente ou Rato Atrevido)
Trata-se de um aplicativo para celulares e tablets(disponível para android e iOS), em formato de jogo, que de forma lúdica auxilia os pequenos neste processo de aprendizagem.
A brasileira Ana Sarrizo, presidente da Brainy Mouse Foundation, criou o aplicativo após 4 anos de pesquisa. Os resultados em grupos testes com crianças de Belo Horizonte e São Paulo têm sido muito satisfatórios. No mês passado, foi lançada uma versão em inglês e, agora, disponibilizam a versão em português.
O objetivo do jogo é trabalhar o desenvolvimento da linguagem porque este é justamente um dos maiores desafios para a educação dos autistas, no mundo inteiro. O jeito como pensam, assimilam e compreendem o mundo a sua volta é peculiar de tal forma que muitas vezes nem mesmo os familiares ou os educadores estão preparados para lidar.
“Imagine as dificuldades que já enfrenta um adulto autista, em um mundo que não está preparado para lidar com suas diferenças. Agora imagine um adulto autista e que ainda por cima não sabe ler e escrever”, explica a criadora do aplicativo Ana Sarrizo.
Estima-se que 3 milhões de brasileiros são autistas. Este dado é um reflexo do estudo divulgado pelo Center of Control and Prevetion, órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, que aponta a incidência de 1 a cada 68 crianças. Além dos desafios da doença, o maior entrave ainda é o preconceito. Vem dar uma olhada na interface do jogo e se encante:


Como funciona
O game trabalha a leitura da esquerda para direita, formação de palavras usando sílabas, interação com cores, sons e outros “dispositivos cognitivos”, que ajudam o usuário a trabalhar seu desenvolvimento de forma lúdica. De forma bem interativa, a criança pode customizar seu ratinho, além de ser desafiada a conseguir “cheesecoin”, uma espécie de moeda virtual.
Uma das principais apostas do game é o dispositivo chamado “Rato Amigo”, que tem como objetivo trabalhar, de forma inconsciente, a atitude de pedir ajuda ao próximo, e assim estimular essa ação no dia a dia.
Como tudo começou
Em 2013, a pesquisadora Ana Sarrizo pensava apenas em contribuir com os portadores de TEA de Belo Horizonte, sua cidade natal. O resultado do projeto foi tão bem sucedido que um professor de Ana a aconselhou inscrever no prêmio Santander, do qual foi vencedor entre 17mil propostas voltadas para a educação. Com a premiação de R$ 100 mil e uma bolsa no curso de empreendedorismo da Babson College, uma das mais importantes do mundo, decidiu criar a Brainy Mouse Foudation, nos Estados Unidos, ficando mais próxima das mais importantes pesquisas sobre autismo.
O objetivo da Fundação é ajudar instituições do mundo inteiro, familiares e educadores, que já trabalham com crianças e adultos com TEA, produzindo games e ferramentas que vão auxiliá-los no seu progresso dia a dia. Para saber mais, basta clicar aqui.


sábado, 31 de março de 2018

ALPHA BEAT CANCER – GAME BRASILEIRO PARA CRIANÇAS COM CÂNCER

Que os games são ferramentas importantes até mesmo para a medicina, você já sabia, certo? Pois bem, a bola da vez é o Alpha Beat Cancer,   desenvolvido pela Mukutu em parceria com o Instituto Beaba, que acaba de ser premiado com o World Summit Awards na categoria global de Saúde e Bem Estar. O game ajuda crianças com câncer a entender melhor a doença.
Para quem não conhece, o WSA é uma importante premiação global que tem o intuito de selecionar e promover os melhores e mais inovadores conteúdos digitais do mundo, valorizando a relevância em relação ao contexto em que foi criado, bem como a contribuição a inclusão e acessibilidade digitais.
A equipe da Mukutu e do Instituto Beaba viajaram para o congresso da premiação, que aconteceu na cidade de Viena, na Áustria, entre 20 e 22 de março de 2018.
De acordo com os.desenvolvedores, a ideia do Alpha Beat Cancer é desmistificar o câncer para pacientes infantis. No jogo, a criança pode se divertir atendendo pacientes, higienizando objetos ou contendo hemorragias – entre outras missões distribuídas em 20 mini-games. Assim o jogador aprende os termos do mundo oncológico e se sente mais confiante para aderir ao tratamento. O jogo é totalmente grátis para o usuário, sem nenhum tipo de publicidade.
A competição global é resultado de seleções nacionais, envolvendo mais de 150 países, que em concursos locais, selecionam as melhores práticas e os melhores projetos em oito categorias. O WSA teve início em 2003, em Genebra, no âmbito da Cúpula das Nações Unidas sobre a Sociedade da Informação (WSIS – World Summit on the Information Society) e vem sendo realizado a cada dois anos, coordenado pelo Centro Internacional de Novas Mídias (ICNM – International Center for New Media), de Salzburg, Áustria. Por conta da premiação, o Instituto Beaba também ganhará uma aceleração mentorada pelo WSA.
“Entre a ideia e o reconhecimento que o Alpha Beat Cancer vem recebendo foram três anos. Agora milhares de pacientes da pediatria oncológica já baixaram o game, aprenderam mais sobre o câncer e estão mais engajados no tratamento”, comemora Ludmila Rossi, CMO do grupo Mkt Virtual.
Você pode baixar Alpha Beat Cancer para iOS ou Android aqui.


quinta-feira, 29 de março de 2018

Minha defesa de doutorado

Foi um momento único, fruto de 04 anos de doutoramento
Foi estressante, foi cansativo, mas foi rico, frutífero e feliz.
Obrigada a todas e todos que estiveram comigo nessa caminhada






A Laeps marcando presença!!!!


Corticoide na Sepse: a volta dos que não foram


Suponhamos que estamos vendo um paciente na UTI, que internou com pneumonia comunitária, desenvolveu insuficiência respiratória aguda e choque. Após as 1as medidas terapêuticas obrigatórias (antibiótico precoce e correto, reposição volêmica, vasopressor para manter PAM > 65 mmHg, ECO para avaliar função cardíaca e inotrópico), o paciente mantém choque e perfusão periférico deficiente. Você espera por algumas horas (6, 8, 12 ou 24, a seu gosto) e o paciente ainda precisando de maiores doses de vasopressor. Você vai iniciar corticoide ? Vejamos numa imaginária linha do tempo:

- 1970 a 1987: talvez, com doses altas (tipo pulso);
- 1987 a 1998: não, doses elevadas de corticóide aumentam mortalidade;
- 1998 a 2008: sim ! parece que doses moderadas reduzem morte, principalmente se o paciente tem disfunção adrenal;
- 2008 a 2017: talvez, mas o estudo CORTICUS (2008) botou pá-de-cal no corticoide; Surviving Sepsis Campaign lavou as mãos e diz que a indicação é fraca.

Pois é. Tudo muda no mundo. Criticos se separaram em céticos e fiéis do corticoide. Alguns afirmaram que o CORTICUS (Sprung 2008) não selecionou corretamente os pacientes (tamanho amostral não foi cumprido), e mantinha terapia com hidrocortisona por um tempo muito além do necessário (11 dias), gerando complicações como hiperglicemia e superinfecções.

O estudo ADRENAL, idealizado e mantido pela ANZICS, foi publicado para tentar reduzir estas críticas e mostrar o real efeito da terapia. Eles já fizeram vários trabalhos definidores, como o SAFE que demonstrou que albumina não aumenta mortalidade, e é apenas semelhante a salina para reposição volêmica no paciente grave.

O ADRENAL foi randomizado, controlado e duplo-cego, com amostra de quase 3800 pacientes, em UTIs de 5 países (predominantemente Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido). Os pacientes incluídos tinham necessariamente suspeita/confirmação de infecção, SIRS >= 2 pontos, ventilação mecânica e vasopressor por mais de 4 horas. Excluiu-se usuários de corticoide previamente ao estudo e também etomidato. Houve perda de menos de 5% dos pacientes por falta de consentimento ou follow-up. A população do estudo é típica de uma UTI geral, com idade média de 62 anos, 2/3 dos pacientes clínicos, com pneumonia como principal sítio de infecção. Os pacientes receberam hidrocortisona 200mg/dia em infusão contínua, em média 20 horas após início do choque e mantido por 7 dias ou até alta/óbito na UTI.

O uso de corticoide no choque séptico não alterou estatisticamente a mortalidade em 90 dias (27,9% vs 28,8%). Porém alguns desfechos secundários foram beneficiados com o uso de hidrocortisona:
- reversão do choque (1 dia a menos): já havia sido demonstrado em vários estudos;
- tempo de UTI (2 dias a menos);
- tempo de ventilação mecânica (1 dia a menos);
- menor uso de transfusão de hemácias (20% a menos).

Outro dado interessante é que eventos adversos como infecções fúngicas e bacteremias não foram diferentes entre os grupos (diferentemente do CORTICUS de 2008). O total de eventos adversos foi 1,1% no grupo corticoide vs 0,3% no grupo controle.

Outras diferenças para estudos antigos foram: não se usou fludrocortisona, não houve retirada gradual de corticoide e não se testou função adrenal (teste com ACTH).

O estudo concluiu que o uso de corticóide em choque séptico não altera a mortalidade em 90 dias. Mas minha impressão é que pode ser pouco parar nesta afirmação: há benefícios em reversão do choque e redução de tempo de ventilação e permanência significativos. Este estudo é provavelmente definitivo neste assunto e indica o lugar certo e justo do corticoide na sepse: no choque, nas primeiras 24 horas, por no máximo 7 dias. Mas não era assim que nós vínhamos usando nestes últimos anos ? Parece até filme de zumbis: voltando de onde nunca saíram.

Fonte: https://artigoscomentados.blogspot.com.br/

Mais eventos científicos 2018!!!!











sexta-feira, 16 de março de 2018

A experiência de um internamento pelo olhar de um poeta

Temporada de pedras

Pinga
Vejo gotejar
Percebo escancarar as entranhas
Quando desce pelo equipo
Tramadol
Morfina
Umas doses de calma
Num corpo que grita
Enfermeiras
Luzes acesas
Afere a pressão, mede temperatura
E meu corpo é só uma massa
Estar no hospital é tão mortal quanto nascer
Pinga antibiótico
Aumenta o antinflamatório
A prisão de ventre
Dá voz a minha dor inconsciente
Qual o aprazamento?
- Pergunto para a pitonisa
O médico não mudou
E os novos bisturis invadem meus ouvidos
Nego a gravidade
Barganho com os Orixás
Aceito a dor nas costas
Converso com meus cálculos renais
Estar no hospital é tão entediante quanto morrer
Pinga
Pinga, enfermeira
Um pingo de humanidade
Neste corpo já tão sem vontades
Goteja lágrimas
Espera o maqueiro
O roupão não cabe
Esse quarto pequeno não cabe qualquer vaidade
Desce pra tomo
Ultrassom e raio x
E o frio só não congela
A tortura de sofrer por qualquer dor
Estar no hospital é tão esquizofrenizante quanto todo dissabor.


Décio Plácido Neto, 13.03.2018

Se quiser ler mais: http://poesiaemalivio.blogspot.com.br/

Direitos dos Usuários da Saúde


quarta-feira, 7 de março de 2018

Cursos gratuitos e online

O Hospital Albert Einstein oferece diversos cursos na área da saúde de forma gratuita e online, objetivando aprimorar o conhecimento de profissionais e estudantes da saúde 

Se interessou? Clique no link abaixo e encontre um curso para você

https://www.einstein.br/ensino/Paginas/cursos-abertos.aspx#/k=



Vício em games é considerado distúrbio mental pela OMS

A 11ª Classificação Internacional de Doenças (CID) irá incluir a condição sob o nome de "distúrbio de games". O documento descreve o problema como padrão de comportamento frequente ou persistente de vício em games, tão grave que leva "a preferir os jogos a qualquer outro interesse na vida".
Alguns países já haviam identificado essa condição como um problema importante para a saúde pública. Muitos, incluindo o Reino Unido, têm clínicas autorizadas a tratar o distúrbio.
A última versão da CID foi finalizada em 1992, e a nova versão do guia será publicada neste ano. Ele traz códigos para as doenças, sinais ou sintomas e é usada por médicos e pesquisadores para rastrear e diagnosticar uma doença.
O documento irá sugerir que comportamentos típicos dos viciados em games devem ser observados por um período de mais de 12 meses para que um diagnóstico seja feito. Mas a nova CID irá reforçar que esse período pode ser diminuído se os sintomas forem muito graves.
Os sintomas dos distúrbios incluem:
  • -Não ter controle de frequência, intensidade e duração com que joga videogame;
  • - priorizar jogar videogame a outras atividades;
  • - continuar ou aumentar ainda mais a frequência com que joga videogame, mesmo após ter tido consequências negativas desse hábito;
Richard Graham, especialista em vícios em tecnologia no Hospital Nightingale em Londres reconhece os benefícios da decisão.  Mas, para ele, é preciso tomar cuidado para não se cair na ideia de que todo mundo precisa ser tratado e medicado.
"Pode levar pais confusos a pensarem que seus filhos têm problemas, quando eles são apenas 'empolgados' jogadores de videogame", afirmou.

Segundo Graham, ele vê cerca de 50 casos de vício em videogame surgindo por ano e seu critério é: o jogo está afetando atividades básicas, como comer, dormir, socializar ou ir à escola? Se a resposta for sim, então, pode ser um problema.
"O vício está dominando o estado real neurológico, o pensamento e as preocupações?" - de acordo com Graham, essa seria uma boa pergunta para fazer ao diagnosticar um paciente.
Um estudo recente feito na Universidade de Oxford sugeriu que, apesar de as crianças no geral passarem cada vez mais tempo na frente das telas, isso não necessariamente representa vício.
"As pessoas acreditam que as crianças estão viciadas em tecnologia e nessas telas 24 horas por dia a ponto de abdicarem de outras atividades. Mas sabemos que esse não é o caso", afirmou o pesquisador Killian Mullan.
"Nossas descobertas mostram que a tecnologia tem sido usada em alguns casos para apoiar outras atividades, como tarefas de casa, por exemplo, e não excluindo essas atividades das vidas das crianças", disse ele.
"Assim como nós, adultos, fazemos, as crianças espalham o uso da tecnologia digital ao longo do dia, enquanto fazem outras coisas", finalizou.

Temos que ter cuidado e refletir sobre essa patologização da vida!!!

Sem ordem e sem progresso: Mortalidade da Sepse nas UTIs do Brasil

Existem poucos estudos sobre epidemiologia e fatores organizacionais de pacientes sépticos em nações com menor grau de desenvolvimento. Frequentemente aplicamos ou extrapolamos números e chances de casos e sobrevivência com base em estudos americanos ou europeus. Por exemplo, calcula-se cerca de 750.000 casos de sepse nos Estados Unidos em estudo publicado em 2001 (população com sepse entre 1996 e 2000); a população americana era de cerca de 300 milhões na época. Hoje em dia, a população americana está em torno de 400 milhões de habitantes, e extrapolamos para ~ 1 milhão de casos de sepse por ano. É difícil extrapolar para o Brasil: temos a metade da população de habitantes, mas estimamos que há maior número de casos de sepse proporcionalmente (talvez o chamado "risco Brasil").

Por isso, precisamos de estimativas nacionais, com qualidade. O estudo SPREAD foi transversal, em UTIs de todas as regiões brasileiras, com equilíbrio entre extratos populacionais de capitais e cidades interioranas, hospitais públicos e privados, tamanho das UTIs (com menos ou mais de 10 leitos). A abrangência foi de 1690 UTIs de pacientes adultos, com cerca de 19 mil leitos de UTIs.

As UTIs randomizadas para participar do estudo foram escolhidas a partir do censo de UTIs feito pela AMIB em 2010. Elas foram contactadas (N=368) e no final 277 foram incluídas. 227 UTIs enviaram dados de 2632 pacientes internados no dia do estudo nas UTIs. E 794 pacientes tinham sepse e foram acompanhados até o desfecho hospitalar.

As principais diferenças entre sobreviventes e não-sobreviventes foram:
- Menor disponibilidade de recursos (ventiladores, cateteres venosos e arteriais, bombas infusoras, etc): 66% vs 53%;
- Idade: 61 vs 68 anos;
- Choque séptico: 60% de mortalidade (lembrando que foi 65% no Sepse Brasil publicado em 2006);
- Infecções hospitalares: 61% vs 41% comunitárias
- Procedência do andar ou UTI;
- Tempo maior que 6 horas do diagnóstico da sepse até internação na UTI;
- Controle inadequado do foco: 71% mortalidade;
- Antibiótico após 1 hora ou sem aderência ao pacote de 6 horas: 62% mortalidade.

Os destaques do estudo são:
- Trabalho com georreferência: afasta o viés de seleção que houve em outros estudos com centros de estudo voluntários;
- 30% dos leitos desta amostra representativa de UTIs brasileiras estavam ocupados por pacientes com sepse;
- A mortalidade foi igual em hospitais públicos e privados; a disponibilidade de recursos e a aderência ao pacote de 6 horas foram mais determinantes para o desfecho;
- A aderência ao pacote de 6 horas é péssimo (20%) - estudo espanhol de Ferrer et al tinha 40% em 2008 e outro estudo de rede de hospitais brasileiros tinha 55% de aderência - e isso parece influenciar a chance de se viver ou não;
- Há pouca diferença de mortalidade entre pacientes com aderência a antibióticos em até 1 hora e o pacote completo de 6 horas;
- Finalmente, a incidência de infecções hospitalares foi enorme (290 por 100 mil habitantes), com 60% das sepses sendo originárias na própria UTI.

Concluindo, temos um cenário assustador para a sepse no Brasil. Independente da natureza do hospital, a escassez de recursos e a falta de aderência ao pacote de tratamento (principalmente antibioticoterapia precoce) estão associados à mortalidade de 56%. Não há ordem nos nossos hospitais para melhorar a aderência aos protocolos e a segurança do paciente. Este resultado é semelhante aos estudos de mais de 10 anos atrás (BASES e Sepse Brasil), traduzindo a falta de progresso na síndrome infecciosa que é responsável pela ocupação de 30% das UTIs brasileiras. Ou seja, sem ordem, nem progresso.

André Japiassú

Fonte: https://artigoscomentados.blogspot.com.br/

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Conselho Federal de Medicina atualiza resolução com critérios de diagnóstico da morte encefálica

O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou critérios mais rígidos para definir morte encefálica. A mudança nos procedimentos tem impacto no processo de doação e transplante de órgãos, que só pode ser iniciado depois do consentimento da família e da confirmação da morte cerebral do paciente a partir da realização de vários exames.

A partir da nova resolução - aprovada pelo CFM -, além do neurologista, outros especialistas como médico intensivista, neurocirurgião ou médico de emergência, poderão diagnosticar o fim da atividade cerebral do paciente. Segundo o conselho, considera-se que houve morte cerebral quando o paciente tem parada irreversível da respiração e de todas as funções do cérebro, incluindo o tronco.

Os procedimentos para determinar a morte encefálica devem ser iniciados em todos os pacientes que apresentam estado de coma não perceptivo, ausência de reflexos do tronco cerebral e interrupção persistente da respiração (apneia).
Se depois de pelo menos seis horas em observação no hospital o paciente apresentar ainda lesão de causa desconhecida e irreversível no cérebro, temperatura corporal acima de 35 graus e anormalidade no grau de saturação arterial, ele deve ser submetido aos exames de morte encefálica.
Para constatar a morte cerebral, dois médicos diferentes devem realizar o exame clínico, teste de apeia e exames complementares, como o eletroencefalograma e angiografia cerebral, entre outros.

O laudo deve ser assinado por profissional capacitado para a realização desse tipo de exame. A parada cardíaca pode ocorrer em até 5 dias depois do diagnóstico de morte cerebral.
Os critérios constam da nova resolução 2.173/17, que entrará em vigor dentro de seis meses substituindo a lei 9434/17, que rege atualmente o Sistema Nacional de Transplantes.

Qualificação dos médicos
A nova resolução exige que os dois profissionais responsáveis pelo diagnóstico de morte cerebral tenham experiência comprovada e sejam especialistas em neurologia, em medicina intensiva, neurocirurgia ou medicina de emergência. Pela lei anterior, o diagnóstico poderia ser feito por um neurologista e outro médico sem habilitação específica.
Os médicos não devem fazer parte da equipe de transplantes e, caso não tenham o tempo mínimo de experiência, podem realizar curso de capacitação, que também deve ser ministrado segundo critérios estabelecidos na nova resolução. O CFM argumenta que a exigência visa dar mais segurança ao processo do diagnóstico.

Transplante
A nova resolução também prevê que os familiares devem ser esclarecidos sobre a situação crítica do paciente e sobre todas as etapas de definição do diagnóstico de morte cerebral.
Se a morte encefálica for comprovada e houver consentimento da família, mais de dez órgãos podem ser transplantados: coração, pulmão, fígado, pâncreas, intestino, rim, córnea e osso, entre outros.
O transplante de órgãos só é autorizado se o paciente não tiver falecido por politraumatismo, Acidente Vascular Cerebral (AVC), tumor cerebral primário e intoxicação.
Também não podem ser doadores pacientes com doenças transmissíveis, câncer e usuários de drogas injetáveis.