sexta-feira, 16 de março de 2018

A experiência de um internamento pelo olhar de um poeta

Temporada de pedras

Pinga
Vejo gotejar
Percebo escancarar as entranhas
Quando desce pelo equipo
Tramadol
Morfina
Umas doses de calma
Num corpo que grita
Enfermeiras
Luzes acesas
Afere a pressão, mede temperatura
E meu corpo é só uma massa
Estar no hospital é tão mortal quanto nascer
Pinga antibiótico
Aumenta o antinflamatório
A prisão de ventre
Dá voz a minha dor inconsciente
Qual o aprazamento?
- Pergunto para a pitonisa
O médico não mudou
E os novos bisturis invadem meus ouvidos
Nego a gravidade
Barganho com os Orixás
Aceito a dor nas costas
Converso com meus cálculos renais
Estar no hospital é tão entediante quanto morrer
Pinga
Pinga, enfermeira
Um pingo de humanidade
Neste corpo já tão sem vontades
Goteja lágrimas
Espera o maqueiro
O roupão não cabe
Esse quarto pequeno não cabe qualquer vaidade
Desce pra tomo
Ultrassom e raio x
E o frio só não congela
A tortura de sofrer por qualquer dor
Estar no hospital é tão esquizofrenizante quanto todo dissabor.


Décio Plácido Neto, 13.03.2018

Se quiser ler mais: http://poesiaemalivio.blogspot.com.br/

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